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1986 – O ano da cerveja belga

Episódio 4 – Nos Bons e Velhos Tempos da Cerveja Belga

O ano de 1986 foi particularmente especial para a cerveja belga.

Nesse ano foi celebrado em todo o País o “Annèe de la Bière” (Ano da cerveja especial belga), um movimento de incentivo ao consumo das várias tipologias de cervejas de alta fermentação tradicionalmente belgas.

Sim, porque em meados da década de 80 as cervejas de baixa fermentação já representavam cerca de 75% do consumo no País, levando muitas das cervejarias tradicionais belgas a falência, ou à troca da produção de cervejas tradicionais belgas para a Pilsen.

Foi um movimento organizado por várias entidades cervejeiras da região da Valônia, no sul da Bélgica, como a “Amis du Verre à Bière et Brasseires Anciennes” (Amigos do Copo de Cerveja e das Antigas Cervejarias), Objective Bierproevers (Organização dos Consumidores de cerveja Belga), entre outras.

o ano da cerveja belga, Logomarca da Objective Bierproevers
Logomarca da Objective Bierproevers

Um Festival de Cerveja em Mons

Nesse esplêndido vídeo de 1986, em um festival no oeste de Hainaut – cidade de Mons – no sul da Bélgica, surgiram muitos daqueles que hoje são ícones do mundo cervejeiro belga (tive o privilégio de conhecer alguns deles nas expedições cervejeiras).

Como por exemplo Jean-Pierre Eloir da Abbaye des Rocs, que passa entre os frequentadores do festival oferecendo as suas cervejas, e se vocês notarem, um tímido e acanhado Dany Prion (futuro fundador e cervejeiro da Brasserie Fantôme, fundada somente em 1988), sentado servindo algumas cervejas da Abbaye des Rocs para amigos (cena impagável).

Jean-Pierre Eloir e Douglas Merlo na Abbaye des Rocs em 2010
Jean-Pierre Eloir e Douglas Merlo na Abbaye des Rocs em 2010

Brasserie a Vapeur

Outro ícone da cerveja belga que aparece no festival, é o jovem Jean-Luis Dits que assumiu as operações da já quase falida Brasserie Cuvelier (fundada em 1785).

Jean-Luis comprou a cervejaria em 1984, fazendo pouquíssimos restauros, deixando o ambiente e maquinários todos movidos à vapor e mudando também o nome da cervejaria para “Brasserie a Vapeur” (Cervejaria de Vapor).

É justamente na Brasserie a Vapeur, na cidade de Papaix zona de Hainaut, onde é mostrada uma brassagem dirigida pelo próprio Jean-Luis Dits.

Uma fantástica viagem de como se fazia cerveja no final do séc. XVII, com motores, engrenagens e correias movidas à vapor. Sendo a única no mundo ainda totalmente movida à vapor.

Jean-Luis Dits e Douglas Merlo na Braserie a Vapeur durante a Expedição Cervejeira
Jean-Luis Dits e Douglas Merlo na Braserie a Vapeur durante a Expedição Cervejeira

Brasserie Dupont

Retornando ao festival, aparece o jovem Marc Rosier, 3° geração de cervejeiros da Brasserie Dupont.

A cervejaria fica em uma antiga propriedade agrícola, onde a produção de cervejas sazonais acontece desde 1844.

A Dupont nasceu em 1920, quando Luis Dupont tomou posse da fazenda.

Posteriormente, a propriedade sempre permaneceu entre os descendentes da família Dupont, passando primeiro para Sylva Rosier, sobrinho de Luis Dupont e Engenheiro Cervejeiro de formação, depois para seu filho Marc Rosier.

Atualmente a gestão da produção está a cargo de Oliver Dedeycker, sobrinho de Marc Rosier.

O ano de 1986 foi um ano especial para a Brasserie Dupont, devido ao Ano da Cerveja Belga, que permitiu que muitos consumidores descobrissem seus produtos, e em comemoração ao Ano da Cerveja lançou a sua Moinette Brune.

Naquele ano a produção foi de 4.000 hectolitros. Nas últimas décadas, o mercado da Dupont expandiu muito e a produção cresceu consideravelmente, atingindo 14.000 hectolitros por ano.

Sempre ligada à tradição cervejeira da Valônia, a Dupont também se caracteriza pela produção de queijos e produtos culinários típicos.

Nesse momento aparece também Claude Allard, irmã e química cervejeira da Brasserie Dupont.

Peter Crombecq, escritor e divulgador da Cerveja Belga.

Após a conversa com Marc Dupont, a apresentadora tem uma entrevista com Peter Crombecq, pioneiro na difusão da cerveja belga.

Escritor de vários livros sobre a cultura cervejeira belga, Peter também foi o fundador da Objective Bierproevers (Organização dos Consumidores de cerveja Belga).

Também é cofundador da EBCU (União Europeia de Consumidores de Cerveja) que é uma organização internacional independente, não religiosa e apolítica de consumidores, fundada em maio de 1990 em Bruges por três organizações europeias de consumidores de cerveja, CAMRA, Objectieve Bierproevers e PINT.

Beer Shop Belga em 1986

Uma linda tomada de vídeo feita em um Beer Shop belga em 1986, onde ainda era possível encontrar cervejas que hoje estão extintas. Como por exemplo os derivados de Lambic da Eylenbosch, extinta pouco tempo depois. 

Brasserie Allard-Groetembril

O vídeo segue para uma entrevista com Josephe Groetembril, cervejeiro e proprietário da Brasserie Allard-Groetembril, onde ele fala sobre as Bière de Table, que já naquela época estava revivendo entre os produtores da região de Hainaut. Feita exclusivamente como forma de propagação de leveduras.

Infelizmente em 12 de dezembro de 1990, a cervejaria é declarada falida.  As instalações e edifícios estavam em mau estado. O que ainda pôde ser usado, mudou para a cidade de Rongy, onde a Brasserie Brunehaut foi aberta.

Jovens de 1986 envolvidos com a história da Cerveja Belga

Outro fator explorado no vídeo é a vontade dos jovens em reviver cervejarias extintas.

Como Olivier De Bruyne, que herdou a produção da famosa cerveja Abbaye du Warneton. Receita originalmente criada por Hector Van Windekens da Brasserie La Poste fundada pelo próprio Van Windekens em 1857.

A cerveja da La Poste era vendida em 40 bares familiares da região.

Após a destruição da cervejaria durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18), a produção foi reiniciada e uma cervejaria maior foi construída.

O negócio da família continuou até 1976, quando a cervejaria foi doada ao círculo de história local com o objetivo de transformá-la em um museu.

Após várias atividades de renovação e conservação, o museu foi reinaugurado em 2009.

La Poste Abbaye du Warneton 1977, degustada pelo nosso guia Doug Merlo no Kulminator
La Poste Abbaye du Warneton 1977, degustada pelo nosso guia Doug Merlo no Kulminator

Curiosidades e Cultura Cervejeira Belga

Durante as filmagens da produção de Olivier DeBruyne, é mostrado, assim como no 1° vídeo da série “Nos bons e velhos tempos da cerveja belga”, intitulado “Os loucos da Brassagem”, como eram calculados os impostos das cervejarias belgas no final da década de 80.

Onde todo dia de brassagem um fiscal do governo ia até a cervejaria para medir o extrato do mosto, calculando assim os tributos a serem pagos sobre aquela produção, dependendo do valor de seu °BRIX.

Outra grande curiosidade que o vídeo desmistifica, é sobre os graus belgas colocados nos antigos rótulos de cerveja (hoje em dia alguns ainda usam) ex: °6, °8, °10, 12°.

No vídeo é mostrado a forma correta de calcular e entender o que são esses números.

Museu da Cerveja Belga em 1986

O vídeo termina com a visitação de um bucólico museu com antigas garrafas e rótulos de cervejarias já extintas naquela época, desejando que o futuro das cervejas belgas, não seja as velhas e esquecidas prateleiras de museus.

“Cada cidadão deve, como puder, se esforçar para apoiar o que é o orgulho e prazer do seu País”

selo do ano da cerveja belga
Selo do ano da cerveja belga

Projeto – Bons e velhos tempos da Cerveja Belga

O que é o projeto “Nos bons e velhos tempos da cerveja belga”?

O projeto é desenvolvido, produzido e coordenado por Douglas Merlo em parceria com a tradutora Carolina Ribeiro Althoff.

O projeto consiste em procurar, examinar, investigar e recuperar vídeos antigos sobre a cultura cervejeira belga.

Traduzir para o português, e disponibilizar gratuitamente para os apaixonados por cerveja e história belga.

É um trabalho totalmente voluntário, com o único objetivo de disponibilizar e difundir a cultura cervejeira belga com legendas em português, para estudos, aprofundamentos ou simplesmente curiosidade.

O Vídeo:

Escrito por:
Douglas Merlo
Sommelier de Cervejas
BJCP Certified
Mixologista
Cavaleiro da Cerveja Belga
Membro da “The British Guild of Beer Writers”

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