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O Fim de um ícone: Brouwerij Bosteels encerra a produção da Deus Brut des Flanders

Algumas cervejas não nascem apenas para matar a sede. Elas surgem para romper fronteiras, questionar definições e deixar marcas profundas na história. Para quem ja visitou a Brouwerij Bosteels com a Expedição Cervejeira® Bélgica sabe que a cerveja Deus Brut des Flandres é exatamente uma dessas raridades. Com o anúncio recente do encerramento de sua produção, o mundo cervejeiro se despede de uma das criações mais inovadoras do século XX.

O nascimento de uma cerveja fora de qualquer padrão

Lançada no final dos anos 1990, a Deus Brut des Flandres nasceu com uma proposta ousada: aplicar integralmente o método tradicional do Champagne à produção de uma cerveja. Em um país onde tradição e inovação caminham lado a lado, a Bélgica viu surgir uma cerveja que não se encaixava em estilos convencionais — e justamente por isso se tornou lendária.

Produzida a partir de uma base de Belgian Strong Golden Ale, a Deus passava por segunda fermentação na garrafa, seguida de remuage e degorgement, processos raríssimos no universo cervejeiro à época. O resultado era uma cerveja brut, extremamente seca, de carbonatação fina e elegante, servida em taça flute e pensada para ocasiões de celebração.

Mais do que uma cerveja, a Deus era um manifesto líquido: uma declaração de que a cerveja podia dialogar diretamente com o mundo do vinho e dos espumantes sem perder sua identidade.

Singularidades que a tornaram um ícone da cerveja

A Deus Brut des Flandres foi uma das primeiras cervejas modernas a explorar, de forma consistente e respeitosa, o território das chamadas Bière de Champagne. Seu perfil sensorial refinado, aliado ao alto teor alcoólico perfeitamente integrado, conquistou sommeliers, chefs, jurados e consumidores ao redor do mundo.

Ela não buscava volume, mas prestígio. Não disputava prateleiras, mas momentos. Tornou-se presença constante em cartas de restaurantes estrelados, eventos de luxo e harmonizações ousadas — sempre despertando conversas sobre onde termina a cerveja e onde começa o vinho.

A notoriedade global e a aquisição pela AB Inbev

Com o passar dos anos, a Deus se consolidou como um ícone da inovação belga. Em 2016, a Brouwerij Bosteels, responsável pela produção da cerveja, foi adquirida pela AB InBev, maior grupo cervejeiro do mundo.

A aquisição gerou expectativas e incertezas. De um lado, a esperança de maior alcance global; de outro, o receio sobre o futuro de produtos tão específicos, complexos e pouco escaláveis. A Deus sempre foi uma cerveja de processos lentos, caros e artesanais — características que nem sempre se alinham às lógicas industriais de grandes conglomerados.

O fim da sua produção e a saudade que fica

Chegamos, então, aos dias de hoje. A notícia do encerramento da produção da Deus Brut des Flandres caiu como um balde de água fria sobre o mercado cervejeiro mundial. Sem alarde, sem grandes comunicados emocionais, encerra-se a trajetória de uma cerveja que ajudou a redefinir o que era possível dentro do copo.

Sua saída de cena não representa apenas o fim de um rótulo, mas a perda de um símbolo de coragem criativa, de um tempo em que inovação significava arriscar-se tecnicamente, culturalmente e conceitualmente.

Porque a Deus Brut des Flanders teve a sua produção encerrada?

O principal motivo para o encerramento da produção da Deus Brut des Flandres está diretamente ligado ao seu alto custo de produção e à logística extremamente complexa envolvida em sua elaboração. Claramente era uma produto de alto valor agregado que não trazia os lucros desejados.

Diferentemente da maioria das cervejas, a Deus era produzida utilizando integralmente o método tradicional do Champagne, o que exigia múltiplas etapas adicionais, longos períodos de maturação e mão de obra altamente especializada. Processos como segunda fermentação na garrafa, remuage e degorgement demandam tempo, infraestrutura específica e operação manual, elevando significativamente os custos.

Além disso, a logística da Deus era particularmente desafiadora. A cerveja precisava ser transportada para locais especializados para as etapas finais do método champenoise, o que aumentava despesas com deslocamento, armazenamento, controle de qualidade e risco operacional. Trata-se de uma cadeia produtiva complexa, pouco compatível com modelos industriais focados em escala e eficiência.

Com o passar dos anos, esse conjunto de fatores tornou a Deus Brut des Flandres um produto difícil de sustentar economicamente, especialmente dentro de um mercado cada vez mais pressionado por custos, margens e racionalização de portfólio. Assim, apesar de seu enorme valor simbólico e histórico, a decisão pelo encerramento acabou sendo inevitável.

Uma despedida à sua altura e quem sabe seja somente um “até logo”

A Deus Brut des Flandres não foi feita para ser comum — e sua despedida também não é. Ela deixa um legado que continuará inspirando cervejeiros, jurados, sommeliers e apaixonados pela cultura cervejeira por décadas.

Hoje, brindamos não com alegria, mas com respeito e saudade. Despedimo-nos de uma das cervejas mais inovadoras do século XX, uma obra-prima que provou que a cerveja pode ser, sim, tão elegante, complexa e celebratória quanto qualquer grande espumante do mundo.

Adeus, Deus Brut des Flandres.

Obrigado por elevar a cerveja a novos patamares. 🍾🍻

Confira abaixo a visita da Expedição Cervejeira® na Browerij Bosteels.

 

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